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Dinâmicas da Evolução Animal

André Mazochi Barroso


Uma Mudança no Entendimento da Evolução


Há aproximadamente 500 milhões de anos, um fenômeno se passava no planeta Terra. A chamada Explosão Cambriana caracterizou-se por ter sido um período relativamente curto em que o número de espécies e a disparidade morfológica dos animais se diversificou como em nenhum outro período.


O estudo das espécies que surgiram neste período se deu principalmente através dos fósseis de Burgess Shale, uma pedreira e sítio fossilífero na Colúmbia Britânica, Canadá. O processo de descrição das espécies fossilizadas de Burgess Shale e a posterior revisão destas espécies foram liderados, respectivamente, por Dr. Charles Walcott e Dr. Harry Whittington. Estes estudos descritivos proporcionaram uma mudança na perspectiva de como funciona a dinâmica da evolução das espécies. Até então, a paleontologia classificava as espécies extintas em grupos existentes, como ancestrais de espécies modernas, assim como fez Dr. Walcott ao descrever e classificar estes fósseis.


Dr. Whittington, em seu trabalho de revisão, desenvolveu uma técnica de dissecação de fósseis que possibilitava a observação de estruturas internas. Foi revisando o curioso Opabinia e constatando que suas estruturas não eram apêndices de artrópodes que Dr. Whittington teve um insight: aquilo não se tratava de um artrópode! Era um ser único, distante de qualquer animal existente e merecia um filo próprio. Isto foi um gatilho que reconfigurou os agrupamentos de espécies fósseis de Burgess Shale (e de qualquer outro lugar!) e modificou a forma de enxergar a evolução das espécies.

A representação mais fiel da árvore filogenética animal é mais larga na base que nas extremidades: a maior parte dos grupos que já existiram já está extinta.




Figura 1: O “cone da diversidade crescente” dá uma falsa ideia de aumento da diversidade com o passar do tempo (Gould, 1989).




Figura 2: O modelo da “dizimação e diversificação”, representa mais fielmente a evolução (Gould, 1989).




Figura 3: Exemplo de uma criatura de Burgess Shale: o estranho Opabinia, com seus cinco olhos e seu notável focinho. Retirado de: File:20191108 Opabinia regalis.png" by Junnn11 is licensed under CC BY-SA 4.0



2- Quatro razões hipotéticas para a explosão cambriana


  • Preenchimento do barril ecológico: a época pré-cambriana tinha oportunidades ecológicas como nunca mais o mundo voltaria a ver. A explosão provavelmente foi potencializada por isso, até o barril ser preenchido e limitar as oportunidades de exploração do meio ambiente (Gould, 1989).


  • A história dos sistemas genéticos direciona e restringe possibilidades: possivelmente os animais primitivos possuíam sistemas genéticos mais simples e mais flexíveis. Os animais modernos possuem groundplans mais consolidados e menos suscetíveis a uma grande reestruturação (Gould, 1989).


  • Diversificação inicial e posterior fechamento como uma propriedade de sistemas: organismos diversificam-se com certa facilidade no início e criam uma relação de dependência com o nicho ecológico. Em certo momento, uma espécie deverá estar tão ligada ao seu nicho que ou ela se enraiza ainda mais nele ou deixará de existir. Mesmo que suja novas oportunidades ecológicas, uma espécie muito ligada a um nicho ecológico não poderá mais mudar de hábito. Eventualmente, todas serão extintas (Gould, 1989).


  • Complexificação dos corpos dos animais relacionada à complexificação da percepção, cognição e comportamento: animais antes da explosão cambriana tinham corpos moles, simples, lentos e não possuíam qualquer estrutura semelhante a um cérebro. Segundo esta hipótese, animais precisariam de um nível básico de cognição e orientação no espaço para controlar um corpo complexo, articulado e ágil (Trestman, 2013).


3- Reflexão final


Possivelmente todas estas hipóteses explicam em partes o porquê da explosão cambriana e não se anulam. Portanto, se a dinâmica da evolução animal pode mudar, quão diferente ela será no futuro? Como a existência de consciência entre os animais, incluindo humanos, afeta a evolução das espécies hoje?


Vídeos complementares


“Wonderful Life and the Burgess Shale”




Leitura Complementar


“What can insects tell us about the origins of consciousness”: Interessante artigo que defende o ponto de vista de que insetos e outros artrópodes possuem experiências subjetivas próprias. DOI: https://doi.org/10.1073/pnas.1520084113



Referências

Gould, SJ. Wonderful Life: The Burgess Shale and the Nature of History. 1989

Trestman M. The Cambrian Explosion and the Origins of Embodied Cognition. Biological Theory, 8(1), 80–92. 2013

Figura 3: "File:20191108 Opabinia regalis.png" by Junnn11 is licensed under CC BY-SA 4.0



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