Amor ou ódio? A complicada relação entre seres humanos e insetos
- Insectum
- 26 de set. de 2022
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Pablo Fernandes

Os insetos possuem importantes funções ecossistêmicas, sendo elas, a ciclagem de matéria orgânica, estímulo de crescimento de plantas, controle populacional de outros insetos, são base de cadeias alimentares de muitos animais, entre muitos outros. Entretanto, eles despertam uma série de emoções nas pessoas como: medo, nojo, fascínio, entusiasmo, admiração, o que não se restringe apenas a insetos, mas aos artrópodes, principalmente, terrestres de um modo geral; no entanto aqui teremos um foco voltado aos insetos. Este texto busca discutir essa relação um tanto quanto controvérsia entre os seres humanos e os insetos, nessa interação dicotômica entre amar e odiar esses animais.
Quando nascemos, não possuímos pré-conceitos a cerca de nenhum assunto, somos movidos por uma curiosidade e fascínio pelas coisas que nos cercam, todas elas muito curiosas, apenas limitados pelo que nós somos ensinados pelas pessoas que nos cercam e por instintos naturais dos seres humanos, que foram se consolidando ao longo da história evolutiva e que embora alguns atualmente não serem necessários, ainda permanecem. E são esses pontos os principais que moldam a forma como vemos e interagimos com os insetos. Aqui, vamos abordar 2 tópicos: A urbanização e influência social; aversão devido a história evolutiva. Os tópicos são fortemente correlacionados, mas a discussão ficará mais compreensível com essa divisão.
Urbanização e influência social
O processo de urbanização trouxe consigo grandes avanços para nossa sociedade, como o advento da tecnologia, melhora da qualidade e expectativa de vida, entre outros; isto não podemos discordar, mas ao longo do tempo, consigo tivemos grandes alterações na forma como a sociedade age e se estrutura, e nisso inclui a forma como somos criados por nossos pais. Não precisamos olhar longe para ver como as coisas mudaram neste ponto, basta comprarmos a forma como nós mesmos fomos criados e o modo que isso se dá atualmente (Fig. 1).

Fig 1. Imagem ilustrativa. Está imagem representa de forma visual a alteração no modo de criação da criação, partindo de como era antes para como se observa atualmente
Antes, as crianças brincavam e tinham atividades que proporcionavam um maior contado com a natureza, assim, aumentando o contato que elas tinham com os insetos; isso gerava uma maior aceitação e familiaridade com esses organismos. Um reflexo disso é que pessoas mais velhas apresentam um menor desgosto por estes animais, e por vezes um maior gosto por eles, assim como uma maior consciência da importância que eles tinham.
Tendo em vista que a maior parte das experiências que temos como crianças são influenciadas pelo que nos pais pensam a respeito. Os mais velhos que tinha um maior apresso, ou ao menos menor desgosto, pelos insetos não lidavam com o contato entre estes e seus filhos de forma abrupta, assim a criança por vezes aprendia que está interação não é problemática.
Com o avanço da urbanização o contato e a frequência de avistamentos dos insetos se deram cada vez menor, por consequência, houve um crescimento da repulsa para com estes (Fig. 2). Isto devido a uma menor interação dos pais com estes quando eram crianças, causando um maior estranhamento e nojo; e esses quando adultos, repercutiam esse pensamento aos filhos. Com o passar do tempo, a taxa de pessoas que não gostam ou não interagem com os insetos aumentou, e se não haver meios de proporcionar esse contato e aprendizagem quanto a isentos para as crianças, ao passar do tempo esse comportamento tende a se intensificar.

Fig. 2 – Esquema representativo do impacto da urbanização na interação ser humano-inseto, e sua influência sobre a aversão a estes animais. (FUKANO; SOGA, 2021)
Aversão devido a história evolutiva(FUKANO; SOGA, 2021)
Ao longo de toda a história evolutiva da nossa espécie tivemos contatos com os insetos, o que não poderia ter sido muito diferentes, sabendo-se que eles surgiram na terra antes de nós. É um fato que os isentos representam um problema para nós em alguns aspectos, pois esses são transmissores de doenças, pragas em cultivos, e são em alguns casos vinculados a um indicativo de má higiene ou poluição.
Para nossos ancestrais distantes e também mais modernos, principalmente, o fato de haver transmissão de doenças por meio de insetos eram um problema muito maior do que temos hoje, antigamente não havia tantos avanços medicinais como hoje, se olhar para nossos ancestrais distantes, isso se torna incontestável. A pressão evolutiva gerada por esses fatores gerou, principalmente, culturalmente, uma repulsa por esses animais, onde eliminar e evitar sua presença era algo importante para evitar doenças.
No entanto, com os avanços medicinais isso deixou de ser um problema tão grave se comparado a antes, mas esse traço de comportamento ainda persisti e reflete diretamente na forma como interagimos com esses animais. Há estudos que mostram divergências de opinião de uma pessoa, por exemplo, influenciada pelo local onde ela encontra o inseto. Para muitos, eles são mais aceitáveis se estiverem extremos a sua residência, mas a partir do momento em que ele é observado dentro das casas, a aversão é maior; gerando mais reações como “precisamos matar”, “que nojo”, etc. Isto pode-se vincular a uma relação bem antiga desses com a dispersão de patógenos e má higiene.
Conclusão
O conhecimento sobre como nós interagimos com eles pode ser aplicado a fim de desenvolver métodos que se voltem a conscientização e restruturação de uma forma de pensar a cerca destes animais, o que impacta diretamente na conservação da biodiversidade e conservação ecossistêmica de um modo geral.
Nossa relação com os insetos é um balance entre amar e odiar. Muitos insetos são do gosto de muitas pessoas devido a sua estética, ou devido a sua importância ecossistêmica muito difundida, no entanto, a forma como vemos e reagimos aos insetos não se prendem apenas a gostos próprios. Toda a relação humano-inseto foi construída evolutivamente e historicamente, e estes moldados por influências de quem nos criou, a partir de seu ponto de vista pessoal sobre aquilo.
Atualmente, com uma crescente na urbanização, o contato entre pessoas e insetos se faz cada vez menor, gerando uma falta de conhecimento sobre a importância desses para o mundo a nossa volta. Da mesma forma que fomos ao longo do tempo direcionados muitas vezes a observar muitos insetos com um ponto de vista negativo, ainda há como mudar esta visão, desde que haja uma maior difusão sobre eles. Sendo assim, se faz necessário a interação acadêmica e a sociedade, mostrando que estes animais são muito importantes.
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